16 de out. de 2013

A Capital Nacional de Melancia amanhece ENVERGONHADA...

  Suspeita de fraude em venda de remédio leva 12 prefeitos à cadeia
Conversas gravadas e documentos mostram como funcionava sistema para fraudar compras em prefeituras
 

Iniciada há cerca de um ano, a investigação do MP-GO apurou irregularidades em licitações e em contratos para fornecimento de remédios e materiais hospitalares envolvendo 19 municípios: Aloândia, Aragarças, Araguapaz, Carmo do Rio Verde, Corumbaíba, Cromínia, Goianira, Inaciolândia, Israelândia, Indiara, Luziânia, Matrinchã, Mozarlândia, Perolândia, Piranhas, Pires do Rio, Rialma, Rianápolis e Uruana.
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Um prefeito telefonou para a empresa fornecedora de medicamentos. Já havia recebido sua propina, mas ainda estava preocupado. Afinal, o município havia recebido remédios próprios para utilização em Unidades de Terapia Intensiva. O problema é que a cidade não dispõe de UTIs e o risco da fraude ser descoberta parecia grande.

Conversas absurdas assim foram flagradas pelas investigações do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) na Operação Tarja Preta, deflagrada ontem. Transações ilícitas como esta movimentaram pelo menos R$ 15 milhões somente neste ano, segundo o órgão ministerial, e resultaram na prisão de 37 pessoas, entre elas 12 prefeitos. Entre as ilegalidades, foi flagrado o superfaturamento na vendas de medicamentos, como o antiepiléticos, Diazepan, Fenitoína e Longactil.

As investigações do MP-GO indicam que as vendas fraudadas, viciadas, direcionadas e superfaturadas de medicamentos começaram em 2012, durante o processo eleitoral. Nessa época, a organização teria aliciado os agentes públicos. O financiamento da campanha era condicionado à futura exclusividade no fornecimento de medicamentos ao município. Conforme a apuração, 19 prefeituras goianas toparam o negócio e participaram do esquema.

A cúpula da quadrilha era composta por empresas com base em Goiânia, fornecedoras de medicamentos e insumos farmacêuticos, hospitalares e odontológicos, segundo o MP-GO. Elas teriam loteado o Estado, cada uma dominando uma área. Por meio de propina, elas comandavam as licitações, inclusive elaborando os editais para beneficiar o grupo e eliminar a concorrência. “A influência era tanta que, quando havia falha no esquema montado, a licitação era cancelada”, disse o procurador geral de Justiça, Lauro Machado.
 
Prefeito leva R$ 20 mil e assessor 10%

A garantia de exclusividade nas vendas de medicamentos foi obtida pela organização criminosa mediante pagamentos de propina, de acordo com Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). Os valores repassados aos agentes públicos eram embutidos nas notas fiscais superfaturadas. Em uma delas, o valor que seria inicialmente cobrado – provavelmente superfaturado – saltou de R$ 120 mil para R$ 146 mil depois de uma conversa telefônica. No diálogo, o assessor de um prefeito liga para o representante de uma das empresas envolvidas no esquema. Eles discutem o faturamento de uma compra feita pela prefeitura. O agente público deixa claro: o prefeito havia mandado incluir os “R$ 20 mil dele” na nota e ainda cobrou para que não fosse esquecido os 10% do assessor.

As fraudes eram feitas nos processos licitatórios, conforme a investigação. As empresas revezavam ao vencer as licitações para não levantar suspeitas no MP-GO e no Tribunal de Contas do Estado. Em alguns casos, havia dispensa ou inexigibilidade da licitação, justificadas por uma urgência forjada, por uma necessidade emergencial que de fato não existia. Itens como esparadrapos, seringas, agulhas e luvas foram adquiridas dessa maneira. Coordenador do Centro de Segurança Institucional e Inteligência (CSI) do Ministério Público, o promotor José Carlos Miranda Nery diz que foram flagrados municípios de 3 mil habitantes com estoque de insumos e medicamentos suficientes para uma população de 50 mil pessoas.

Após fechada a compra, os produtos eram buscados por um servidor da prefeitura. No recebimento da mercadoria, um “vale” era assinado. “Os contratos eram informais, ninguém tinha controle do que entrava e saia da prefeitura. Depois a fatura era cobrada”, afirma o promotor. “Esses “vales” funcionavam como comprar fiado em uma mercearia”, exemplifica o promotor. Mas nem tudo o que estava nele era de fato levado ao município. O valor total das fraudes será descoberto após as análises dos documentos coletados.

As investigações detectaram vales de até R$ 600 mil. “referentes a aquisições com superfaturamentos que chegam a 400%”, conforme explicação do promotor Juan Borges de Abreu, Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

A formalização dos contratos ocorria posteriormente, por meio do braço jurídico da quadrilha. Um grupo de advogados montava o procedimento para dar caráter de legalidade à dispensa de licitação e justificar a emergência da compra dos medicamentos, elaborando decretos com datas retroativas. Em um caso a aquisição dos medicamentos superfaturados ocorreu em março, a falsificação dos documentos foi em maio e a data forjada para janeiro.
Fonte: O Popular/Alfredo Mergulhão 16 de outubro de 2013/Ricardo Rafael 16 de outubro de 2013 (quarta-feira)
 

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